quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

mexa-se

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Podemos aceitar a morte e escolher viver- Bel Cesar


Hoje estive com uma amiga que está enfrentando um momento de grande decisão: começar ou não um novo tratamento para combater um câncer em estágio já avançado. Os médicos a estimulam a continuar, enquanto sua família não sabe o que lhe dizer, pois teme que este tratamento a faça sofrer demais.
Semana passada, ela já resolveu não receber a quimioterapia e agora ainda se questiona se é uma decisão correta parar o tratamento.

É incrível: quando estamos diante de uma situação como esta, parece que todo mundo tem algo a nos dizer, mas, na realidade, estamos sós para decidir. Afinal, seja ela qual for, a escolha é sempre nossa, só nossa.
Conselhos podem nos direcionar para um lado ou outro, mas, ao colocá-los em prática, seremos nós que teremos que passar pela experiência escolhida. Nestes momentos, só nos resta abraçar o paradoxo de unir o desejo de viver ao medo de enfrentar um tratamento que nos faça sofrer mais ainda.

Conversando, ela me disse: “Eu já estava aceitando que não tenho mais nada a fazer, mas agora esse tratamento me deixou novamente em dúvida”. Então, eu lhe disse: “O que você está me dizendo é que já está aceitando a morte, mas isso não quer dizer que esteja escolhendo morrer. Como seria continuar o tratamento sem deixar de continuar aceitando a morte?”
Assim, conversamos sobre o quanto nos faz mal separar a morte da vida... como se, ao aceitarmos morrer, estivéssemos desde já deixando de viver. Podemos aceitar a morte e escolher viver!
Em seguida, fizemos um relaxamento para sentir como seu corpo reagiria frente às suas escolhas. De olhos fechados, ela procurou sentir se alguma parte do seu corpo ficaria mais tensa diante da escolha de fazer ou não o tratamento. Mas, seu corpo permanecia igualmente relaxado, tanto para sim como para não. Assim, permanecemos em silêncio mais um pouco até que ela me disse: “Vou marcar o exame do coração para saber se tenho condições ou não de fazer o tratamento”. Então, nos abraçamos e concluímos: “Pois é, desta vez é mesmo o coração quem vai decidir!”.

O budismo nos estimula a aceitar as coisas como são. Pois, à medida que paramos de lutar contra a realidade iminente, algo natural e confiável ocorre em nosso interior. Quando estamos menos ligados nos resultados futuros e mais abertos para compreender o que está ocorrendo a cada momento em nós, nosso desafio torna-se menor e mais palpável: quando estamos mais próximos de nossas necessidades imediatas, podemos aplicar o esforço correto de acordo com nossas reais capacidades.



Bel Cesar é terapeuta e dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte.
Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer pela editora Gaia.
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Email: belcesar@ajato.com.br